A discussão acerca da equidade de gênero no mercado de trabalho não é algo novo. Contudo, é um assunto que precisa estar em debate constante para que haja mudanças e ações realmente pensadas de forma efetiva.
As conquistas das mulheres nas mais diversas áreas é proveniente de lutas e superações de dificuldades que vêm de longa data. Mas, ainda há muito a ser feito. De acordo com um relatório do Fórum Mundial Econômico, se não houver regressão na evolução dos direitos a igualdade de gênero vai ser alcançada somente em 2095.
Desse modo, para construir um novo cenário as empresas precisam ter a consciência de que precisam ter um número maior de mulheres, incluindo em cargos de liderança e, a partir daí, traçar e discutir estratégias efetivas que alcancem todos os níveis de hierarquias das empresas.
Essa estratégia precisa ser clara para o público externo e interno da organização, ou seja, os valores, comportamentos e normas precisam ser difundidos na cultura da empresa.
Mulheres e mercado de trabalho
O desafio da equidade no mercado de trabalho é grande e muitas profissões ainda são estereotipadas como sendo adequadas para um determinado gênero.
A Head de Desenvolvimento da consultoria de RH da Across, Fernanda Bueno, defende que a diversidade e a melhora nos resultados andam lado a lado. “No caso de empresas, a diversidade é uma forma de enxergar mais elementos, mais oportunidades. Quando a gente pensa como pessoa, lidar com a diversidade é primordial porque por meio do outro, por meio do diferente, a gente identifica o que pode melhorar e até novos modelos do que queremos para o futuro”, conclui.
Outro ponto diz respeito aos cargos de liderança que são em sua maioria ocupados por homens, o que nos leva a crer que, sim, há vagas para as mulheres no mercado de trabalho, mas ainda não é tão comum vê-las em cargos de liderança, em especial em áreas como engenharia e tecnologia. Esta discrepância fica ainda maior quando se faz o recorte de raça.
Ainda que ocupem cada vez mais o mercado de trabalho, muitas mulheres ainda lidam com a dupla jornada, sendo também responsáveis pela casa e criação dos filhos. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que as mulheres gastam aproximadamente 21,3 horas por semana em atividades domésticas, enquanto os homens gastam 10,9, o que significa quase o dobro.
Ao assumir cargos de liderança, as mulheres precisam se esforçar para obter o respeito da equipe. No caso de mulheres que demonstram autoridade, frequentemente, são vistas como mandonas, já homens com essa mesma características são tidos como líderes naturais.
Uma barreira invisível, mas muito perceptível
Você já ouviu falar de Glass Ceiling? A tradução literal para o termo é “teto de vidro” e trata-se de uma metáfora que representa a barreira que impede que um determinado grupo ultrapasse um certo nível na hierarquia. A metáfora foi cunhada pela primeira vez por feministas em referência às dificuldades na carreira de mulheres de alto desempenho.
Fernanda avalia que a maior barreira são os segmentos industriais e trabalhos operacionais e o fato da mulher ainda ser vista como cuidadora. “Muitas mulheres são a principal renda da família. Historicamente, a força física era vinculada ao homem. O Brasil é muito novo como sociedade e ainda carrega algumas crenças de um tempo em que a mulher cuidava somente do privado”, ressalta.
De acordo com um estudo publicado em 2020 pela Ipsos, a resistência frente às mulheres líderes é maior entre homens, chegando a até 31%, em contrapartida a 24% das mulheres.
Se antes a liderança era baseada em competências técnicas, atualmente está ligada a comportamentos, como empatia, sensibilidade, resiliência, proatividade, etc. Frequentemente, essas características são associadas às mulheres, que são vistas como cuidadoras e multitarefas. Assim, pede-se também aos homens incorporarem aos seus perfis esses comportamentos
“Um elemento importante é a autoconfiança, que é também uma barreira que dificulta o alcance de um cargo mais alto ou que uma mulher se acha merecedora de um salário mais alto e, basicamente, equiparado ao que a sociedade costuma pagar para homens. Neste sentido, movimentos de empoderamento femininos podem ajudar, com certeza, nesse processo da mulher ocupar um novo espaço, mostrar que suas características são tão importantes quanto e que é nessa diversidade que a gente avança e cresce como pessoa e também como empresa”, aponta Fernanda.
Mulheres exemplos de inspiração
Recentemente, a Forbes Brasil elencou as 20 brasileiras de sucesso em 2021. Na lista, há personalidades de destaque em diversas áreas, como literatura, música, ciência, negócios e luta pela igualdade e aponta a equidade de gênero tanto na sociedade quanto no mercado de trabalho, que impulsiona transformações em prol de uma sociedade mais igualitária.
O destaque para a lista é a presença maior de mulheres negras, como a escritora Djamila Ribeiro, a bailarina Ingrid Silva e a cantora Teresa Cristina e a representatividade indígena, com Sanda Benites, curadora do Museu de Artes de São Paulo (MASP).
Entre as gestoras da lista da Forbes 2021 destacamos:
- Adriana Aroulho, presidente da SAP no Brasil, empresa líder no mercado mundial de aplicações de software empresarial, dando suporte a mais de 440 mil clientes ao redor do mundo;
- Andrea Pinheiro, managing director do BR Partners, que é um grupo econômico fundado em 2009 e que oferece assessoria financeira, gestão de recursos e outros serviços relacionados ao mercado financeiro;
- Katia Vaskys, gerente geral da IBM no Brasil. A IBM é uma empresa estadunidense voltada para a área de tecnologia da informação, com a fabricação de venda de hardware e software, além de oferecer serviços de infraestrutura, hospedagem e consultoria;
- Regina Esteves, diretora presidente da Comunitas, que é uma organização da sociedade civil que fortalece e fomenta o pacto coletivo entre setores para o desenvolvimento sustentável do país, sendo think and to tank, que faz ensina, conecta inspira e pensa a melhoria da gestão pública;
- Sylvia Coutinho, presidente do UBS no Brasil. A UBS é uma empresa global que presta serviços financeiros a empresas e pessoas para atender demandas personalizadas.
A mudança de cenário
Se, inegavelmente, há empresas ainda bastante enraizadas em processos tradicionais, há, por outro lado, instituições que já estão focadas em questões de diversidade e equidade. Uma prova disso são os Programas de Trainee que são pensados com foco na inclusão, sem distinção de gênero, raça, idade, orientação ual, etc.
Além disso, muitas vezes, esses Programas apresentam opções mais flexíveis de horário e até mesmo a possibilidade de home office em conjunto com o trabalho presencial.
Para avançar na correção de questões históricas, cada vez mais empresas estão aderindo para programas somente para mulheres, como a Gerdau, que em 2020, abriu seleção de Trainee exclusiva para mulheres com formação em engenharia. Também no ano passado, o Banco BV abriu um programa de estágio somente para mulheres.
Além da equidade de gênero, muitas empresas também estão voltando os olhos para a equidade de raça. Para mudanças reais, essas questões não podem ser dissociadas, já que não basta somente focar em um grupo de mulheres.
Pensando nisso, empresas como a Magalu, Bayer e P&G possuem programas específicos para candidatos negros para que haja diversidade nos cargos de lideranças.
A tendência é que cada vez mais instituições, sejam startups ou não, incorporem em sua cultura organizacional iniciativas que prezam pela equidade no mercado de trabalho. As mudanças são reais e não vão parar!